quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A volta da CIDE.

     A CIDE (Contribuição para regular o preço dos combustíveis) foi o valor cobrado até 2012, e eliminada para manter o preço dos combustíveis. O seu retorno é parte integrante de uma série de medidas apresentadas pelo ainda ministro da fazenda Guido Mantega à presidente Dilma Rousseff, para assim tentar reequilibrar o caixa do governo que está negativo, e também a pedido da industria do etanol que vem sentindo as perdas no se consumo, pois sem essa cobrança nos combustíveis (gasolina e diesel) tem sido menos atrativo. Essa cobrança ocorre somente para a gasolina e para diesel, respectivamente, R$ 0,28 e R$ 0,07 por litro, valor maio cobrado no ano de 2008. Mas isso só será decidido na reunião com a nova equipe econômica que ocorre nessa semana, e que ainda não foi anunciada oficialmente, mas já é conhecida. Sendo o futuro ministro da fazendo, Joaquim Levy, e para o planejamento, Nelson Barbosa.
     De qualquer forma, as medidas sendo aprovadas, os valores deverão ser inseridos aos poucos, até chegar ao valor integral cobrado no ano de 2008. As medidas já deverão ser anunciadas juntamente com a nova equipe econômica nesta quinta-feira, dia 27, e assumirá já na próxima segunda, dia 01 de dezembro.

Fonte: Dilma prepara a volta do tributo da gasolina. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/197268-dilma-prepara-volta-de-tributo-da-gasolina.shtml. Acessado em 26/11/2014.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Mesa Redonda sobre o Plano Real (20/11/14)

A última semana foi diferente para os acadêmicos do curso de Ciências Econômicas da UFSC. Foram três dias de mesas redondas e minicursos organizados pelo CALE (Centro Acadêmico Livre de Economia) dos quais, infelizmente, pouco pude prestigiar. Porém, na última quinta-feira a noite, sob um provocante título que questionava a tese da estabilização da economia brasileira sob o Plano Real, palestraram os professores André Martins Biancarelli (UNICAMP) e José Antônio Martins (UFSC). Confesso que tomei assento no auditório do CSE com suspeição, pois o título da mesa redonda me sugeria uma noite de ataques e desqualificações ao Plano Real desprovidos de argumentos sólidos, típicos de debates partidários. Para meu deleite, o que testemunhei foi um colóquio de pessoas com boas ideias para apresentar.
De fato, nenhum dos professores questionou a proposição da estabilização da economia brasileira pelo Plano Real. Entretanto, contextualizaram-na de modo a relativizar certos mitos políticos, muito convenientes em tempos eleitorais, que retratam o momento como um milagre operado pelas mãos da equipe econômica do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Por um lado, ninguém negou os registros históricos da inflação durante as décadas de 1980 e 1990; por outro, ambos os docentes destacaram o papel do sistema financeiro internacional, condição sine qua non da estabilização. Em adição, cada um deles colocou claras críticas ao modo como a política econômica foi conduzida.
André Biancarelli acentuou o papel do sistema financeiro na domesticação da hiperinflação brasileira. Discorreu sobre os vários planos de estabilização e, principalmente, sobre o diagnóstico econômico que os embasava. Desde a década de 1980, o debate brasileiro sobre inflação gravitou em torno da tese da inflação inercial, segundo a qual os choques inflacionários, no sistema econômico brasileiro, tendiam a se propagar ao longo do tempo indefinidamente através dos mecanismos de indexação que foram disseminados pela economia brasileira desde o início do regime autoritário. Esta tese deu guarida a dois gêneros de planos de estabilização monetária: o dos choques heterodoxos e o da superindexação da economia. Centrados no congelamento geral de preços, o fracasso dos planos heterodoxos já está bem registrado na história econômica brasileira. Mas porque a ideia da superindexação só foi tentada em meados da década de 1990, sob o governo de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, depois de tantos anos de agonia hiperinflacionária? Aqui está o ponto alto do entendimento do professor Biancarelli: não podemos aceitar a ideia, bastante simplória e ingênua, de que os homens do governo tucano são simplesmente mais inteligentes, competentes e preparados que os de Fernando Collor de Mello e José Sarney. Planos econômicos centrados na superindexação já eram conhecidos e debatidos desde os primórdios da luta contra a hiperinflação, juntamente com aqueles centrados no congelamento de preços. Não foram colocados em prática antes simplesmente porque não havia condições econômicas para tanto. O professor Biancarelli argumenta, muito convincentemente, que era necessário, entre outros ajustes, uma âncora cambial para dar sustentação à superindexação da economia. Por um lado, a Unidade Real de Valor (URV) nortearia o estabelecimento dos preços relativos na economia brasileira; por outro, a abertura comercial e a âncora cambial exporiam os produtores brasileiros à concorrência externa cerrada, de modo a debilitar sua capacidade de elevar preços continuamente. Uma consequência evidente de tal plano é o crescimento esperado das importações e consequente piora nas contas externas. Seria necessário acesso ao sistema financeiro internacional para cobrir os saldos negativos em conta corrente. E esse acesso só veio com as negociações e acordos com o FMI que se prologavam criticamente desde a moratória de 1987. 
O docente da UNICAMP deixou claro que não se pode retirar o mérito do Plano Real: a estabilização monetária foi uma grande conquista. Por outro lado, o professor não se submete a mistificações políticas: as ideias que fundamentaram o Plano Real já eram bem conhecidas desde a década de 1980 e o sucesso do plano foi devido igualmente a condições financeiras internacionais favoráveis e ao acesso brasileiro a esses fluxos. Além disso, o palestrante destacou outros aspectos importantes: o Plano Real trouxe estabilização monetária mas não macroeconômica. Um plano cuja base eram os fluxos financeiros internacionais não poderia ser macroeconomicamente estável, especialmente se destacarmos que a maior parte desses fluxos consistia em capitais de curto prazo, aplicações em carteira e não investimentos diretos. A volatilidade desses capitais nos causava vertigem: anos de crescimento em torno de 4 ou 5% davam lugar a anos de recessão e desemprego. Por fim, o abandono da âncora cambial em 1999 (e, consequentemente, a necessidade do financiamento externo) não despertou novamente o dragão da hiperinflação, como muitos imaginavam. Acabou fortalecendo a convicção de outros: a âncora cambial (e a excessiva dependência dos capitais de curto prazo) causou danos demais à economia brasileira e se estendeu por muito mais tempo que o necessário.
A abordagem do professor da casa, José Antônio Martins, foi bastante diferente. Abriu sua exposição com a noção de moeda de Karl Marx. Afirmou que a moeda é apenas uma das formas, a mais universal, assumidas pelo capital. Moeda - lembro-me bem dessas palavras intrigantes - é uma forma de reserva de valor, de preservar e representar valor ou aquilo que é produzido. O que faz uma moeda forte então? O que sustenta uma moeda perante outras? É sua capacidade de guardar valor. Nas palavras do professor, de simplicidade e profundidade incomparáveis: "Moeda é produtividade". A partir desses princípios, como analisar a moeda da economia brasileira e o Plano Real? A análise do professor me pareceu, inicialmente, bastante desalentadora. Discorreu sobre a capacidade produtiva da economia brasileira em comparação com a capacidade da economia norte-americana; sobre a aceitação da moeda norte-americana comparativamente a aceitação da nossa moeda. Questionou, de muitas maneiras, que valor o real guarda, preserva e representa, bem como sua força perante outras moedas do mundo. A essa altura, eu estava intrigado. Se a moeda é essencialmente a forma universal e genérica do valor produzido por uma economia e se a economia brasileira é vulnerável, tímida e débil perante outras, como o Brasil mantém uma moeda com valor relativamente estável? Como o País pode manter, simultaneamente, a economia relativamente exposta aos fluxos internacionais reais e monetários e uma taxa de câmbio relativamente estável e flutuante? Chegamos aqui ao Plano Real. O professor Martins argumentou que o Plano Real só foi possível devido às condições financeiras internacionais que deram suporte à moeda brasileira. O capital, refletiu Martins, exigiu novas formas de valorização a partir do início dos anos 1980. Concretamente, essas novas oportunidades foram criadas no coração do capitalismo durante o governo Ronald Reagan e, a partir daí, exigidas de governos ao redor do mundo. O Consenso de Washington foi sua expressão ideológica. Nesse momento, a economia brasileira, atolada em contradições internas e pelejando em busca de um rumo, apoiou-se no sistema financeiro internacional, adotando sua agenda, para reconstruir sua moeda. Qualquer esperança de construção de um sistema econômico autônomo foi enterrada - irreversivelmente, nas palavras do professor Martins. Temos hoje uma moeda sustentada pelas finanças internacionais, sem vida e vigor próprios, refletindo a força produtiva de nossa economia. Daí o papel fundamental do sistema financeiro internacional durante o Plano Real, como o professor da UNICAMP já havia destacado. Daí a necessidade atual de sustentar custosas reservas internacionais da ordem de US$ 350 a US$ 400 bilhões de dólares. "De quantos bilhões de dólares a Alemanha precisa para sustentar sua moeda?" provocou o professor da UFSC. A estabilização monetária conquistada pelo Plano Real trouxe consigo a irreversível dependência econômica.

Thiago Ferreira

terça-feira, 11 de novembro de 2014

15- Mudanças para o deslocamento na oferta e na demanda.

Na oferta: Quando há aumento no preço dos insumos, ha um deslocamento na curva da oferta para direita,  para permanecer o mesmo preço há uma redução na quantidade ofertada . As mudanças tecnológicas na produção de um bem, faz com que aumente a quantidade ofertada, sem aumento nos preços, pois com tecnologia mais eficiente há uma redução nos custos.

Na Demanda: Alteração na renda faz com que haja um deslocamento na curva da oferta; quando o consumidor tem um aumento na sua renda, ele diminui o consumo de um bem inferior que permanece com o mesmo preço, e passa a consumir um bem equivalente de melhor qualidade a um preço maior. Há um deslocamento para esquerda do bem inferior e para direita do bem superior. Se há um expectativa futura de queda nos preços, a quantidade demandada hoje será reduzida. Quando há mudança no número de consumidores tanto para mais quanto para menos, haverá alteração na quantidade demandada.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Função e curva de demanda

Depois de compreendermos a teoria do valor-utilidade, o entendimento do comportamento do consumidor, em particular, e da demanda, no geral, impõe-se como uma tarefa prioritária. Como é a utilidade marginal de uma mercadoria que define seu preço e são as preferência e necessidades dos consumidores que definem a utilidade marginal de uma mercadoria, a análise da demanda dos consumidores e dos elementos que a configuram são uma das pedras angulares da ciência econômica.
Através da intuição e da observação empírica, os economistas neoclássicos indicaram que a demanda dos consumidores responde a uma série de variáveis. Mais obviamente, o preço de determinada mercadoria é fundamental, bem como os preços de bens substitutos, de bens complementares e a renda do consumidor. Como demandantes, nas suas decisões de consumo, pesam continuamente preços e utilidades, na prática o preço de todos os bens tem impacto na decisão de consumo de uma mercadoria específica.  Não menos importante são as preferências dos consumidores, que se transformam ao longo do tempo.
Matematicamente, ao gosto dos economistas neoclássicos, poderíamos definir a quantidade demandada de uma mercadoria (Qd) como uma função de seu preço (P), dos preços de outras mercadorias (P1, P2... Pn), da renda (R) e dos gostos e preferências dos consumidores (G). Assim, temos que 

Qd = F (P, P1, P2..., Pn, R, G) 

Mas como cada variável afeta a quantidade demandada? Aqui temos um problema para cuja solução os economistas desenvolveram um artifício: a hipótese ceteris paribus. Com o objetivo de avaliar o impacto da variação de apenas um item na quantidade demandada, supõe-se que todas as outras variáveis permaneçam constantes. Assim, supondo que permanecem constantes os preços de todas as outras mercadorias, a renda e as preferências dos consumidores, podemos avaliar o impacto das mudanças do preço na demanda pela mercadoria. Temos, então, uma curva negativamente inclinada.


Dada a curva que relaciona preços e quantidades demandadas, podemos voltar a pensar sobre os impactos das outras variáveis que compõe a função demanda. Um acréscimo na renda, por exemplo, resultaria em um deslocamento da curva de demanda para a direita: isso significa que, a qualquer preço, os consumidores demandariam uma quantidade maior dessa mercadoria (considerando um bem normal). O aumento do preço de um bem complementar deslocaria a curva para a esquerda; o de um bem substituto, para a direita. Conforme as preferências dos consumidores brasileiros se voltam para as cervejas artesanais, a curva de demanda dessas mercadorias se desloca para a direita; a do bem substituto (as cervejas industrializadas), para a esquerda.

Thiago Ferreira

Utilitarismo, valor utilidade e princípio da utilidade marginal decrescente


Por volta de 1870, uma nova forma de compreender as leis que regem a economia capitalista estava sendo desenvolvida nos escritos de economistas como Stanley William Jevons, Léon Walras e Karl Menger. Não se trata de uma revolução; não se trata de descartar os pensamentos já estabelecidos. Contudo, as inovações trazidas pelo pensamento neoclássico à ciência econômica revitalizaram-na decisivamente.
Esses novos economistas estavam particularmente insatisfeitos com a resposta que os clássicos, de Adam Smith à Karl Marx, davam à questão da determinação dos preços das mercadorias. Afinal de contas, como bem demonstrou o intelectual alemão, assumindo a teoria do valor-trabalho como resposta à questão, podia-se chegar à conclusão de que o sistema capitalista era fundamentado na exploração dos trabalhadores pelos proprietários de capital e principais atores do sistema: os burgueses. Era necessária uma nova teoria para a determinação dos preços.
Estudando em meados do século XIX, esses economistas estavam imersos num contexto intelectual no qual nasceu a filosofia ética utilitarista de Jeremy Bentham e John Stuart Mill. Segundo essa doutrina, uma ação era boa na medida em que promovia a felicidade e o bem estar individual e geral. Na formulação tradicional de Bentham: "O homem prefere o prazer à dor". A força motriz do ser humano, o que o leva à ação, não seriam a virtude ou o dever, como alguns filósofos defendiam, e sim a busca da utilidade.
Conhecedores da filosofia utilitarista, refletiram então os novos economistas: não seria o homo economicus um maximizador de utilidade? Não seria o consumidor movido pela busca da utilidade? Foi a partir desses questionamentos e pela formulação de uma teoria do consumidor que os neoclássicos chegaram a uma nova teoria para a determinação dos preços das mercadorias: a teoria do valor-utilidade.
Porém, antes veio a formulação do princípio da utilidade marginal decrescente. Especularam os pensadores: se os consumidores obtêm utilidade do consumo das mercadorias, não demandariam então um grande volume de poucos mercadorias, aquelas das quais extraem as maiores utilidades, no lugar de uma grande variedade de mercadorias? Não. Tal comportamento é evitado pelo princípio da utilidade marginal decrescente. As observações e reflexões desses estudiosos levaram-nos a concluir que a utilidade que se obtêm no consumo de uma mercadoria qualquer se reduz a cada nova unidade consumida daquela mesma mercadoria. Ou seja: uma criança se satisfaz muito mais com a primeira barra de chocolate do que com a segunda, a terceira, a quarta... até um ponto em que uma nova unidade adicional (marginal) de chocolate praticamente não redunda em aumento da utilidade do consumidor. É o princípio da utilidade marginal decrescente que rege as escolhas do consumidor.
Considerando que o consumidor é um maximizador de utilidade, nada mais natural do que chegar à conclusão de que o valor dado pelo consumidor às mercadorias corresponde a utilidade que dela pode obter. Sabendo que a utilidade das mercadorias decresce conforme aumenta o seu consumo, podemos chegar a teoria do valor-utilidade: a determinação dos preços das mercadorias é guiada pela utilidade marginal daquela mercadoria. Não poderia haver maior reviravolta: de uma teoria focada na oferta (teoria do valor-trabalho), a determinação dos preços passa a residir na demanda (teoria do valor-utilidade). Com a nova teoria, fica invalidada a teoria marxista da exploração de classe.

Thiago Ferreira

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Conjuntura econômica pós-eleições: a necessidade de reconstrução da confiança

Aos leitores que acompanharam o noticiário econômico durante a findada campanha eleitoral, isso não é novidade: o mercado financeiro tinha um candidato. Quando o candidato Aécio Neves mostrava fôlego nas pesquisas eleitorais, os indicadores da Bovespa subiam, a moeda nacional valorizava-se ante o dólar; na última segunda-feira, a ressaca eleitoral derrubou a pontuação do Ibovespa e fez a moeda norte-americana ficar mais cara para nós. O analista Felipe Miranda, da empresa de consultoria Empiricus Research (famoso pela tentativa de censura que sofreu da Justiça brasileira, durante a campanha presidencial) fala em Fim do Brasil e prevê uma grave crise financeira para 2015.
Porém, sabiamente, a recém reeleita presidente Dilma Rousseff, logo em seu discurso da vitória, sinalizou em direção a um maior diálogo com a oposição (especialmente a oposição não-política, os setores da sociedade brasileira que a queriam fora do Palácio do Planalto) e a mudanças na equipe econômica do governo. Como foi noticiado ontem pela Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/10/1539865-especualcao-sobre-nova-equipe-economica-faz-bolsa-subir-dolar-recua.shtml), as entrevistas dadas pela presidente a redes nacionais de televisão, indicando uma mudança geral no seu ministério, levaram ao início das especulações em torno dos nomes mais cotados para ocupar os principais postos na nova equipe econômica. E, até agora, os nomes têm agradado aos analistas e operadores do mercado financeiro.
 A sinalização da presidente é um tanto contraditória com a retórica adotada durante a campanha eleitoral. Como não reconhecia erros na condução da política econômica do seu primeiro mandato, causa surpresa em dar destaque à reorganização de sua equipe econômica. Duas declarações do atual ministro da Fazenda Guido Mantega, uma antes e outra depois do pleito, estimulam ainda mais as dúvidas e os receios. Disse o ministro que "a atual política econômica será levada até suas últimas consequências" e, depois da vitória eleitoral, que "o povo aprovou a atual política econômica". Não obstante tais sinalizações contraditórias, os nomes do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles e do presidente do Bradesco Luiz Trabuco, bem como do ex-secretário executivo do Ministério da Fazendo Nelson Barbosa (que deixou o cargo há um ano devido a divergências com seu superior e atual ministro Guido Mantega) agradaram, pois são vistos como pessoas comprometidas com a reconstrução da confiança no ambiente de negócios brasileiro.
Mas o que há de tão errado com a condução da política econômica brasileira? É evidente que, como em toda matéria econômica, tal diagnóstico é tema de muita controvérsia. Há economistas que não veem grandes problemas e endossam a tese presidencial repetida incansavelmente durante a campanha eleitoral: o desempenho econômico insuficiente do Brasil se deve à crise internacional a qual, aliás, o país tem atravessado notavelmente bem, especialmente no que diz respeito à manutenção do nível de emprego.
No que concerne à inflação elevada e acima da meta estabelecida, a tese palaciana é a de que a economia sofre com choques externos (especialmente secas) que não devem se repetir nos próximos anos, conduzindo o índice de inflação ao centro da meta (A propósito, a meta de inflação é 4,5%, com margem superior e inferior de dois pontos percentuais; a maioria das previsões indicam que o índice de inflação deve terminar o ano de 2014 batendo no teto da meta).
Muito bem. Mesmo considerando satisfatórias tais respostas (o que, para muitos, não são), ainda há algumas críticas para as quais as vozes do Palácio do Planalto se emudecem e os ouvidos parecem surdos. Para começar, a questão fiscal.
Durante os quatro anos do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, a situação fiscal do governo tem se deteriorado lenta e progressivamente. Aqui e ali, surgiam críticas do uso de artifícios de contabilidade criativa que abalavam a confiança dos investidores nos dados e compromissos do governo. No último ano, tais questionamentos se avolumaram em níveis críticos. Acusava-se o Tesouro de, entre outras artimanhas, atrasar repasses de recursos aos bancos públicos para melhorar a aparência das contas da União, bem como posicionar receitas extraordinárias não-recorrentes com o mesmo objetivo (é o caso das receitas advindas dos leilões de concessão de aeroportos, rodovias e da tecnologia 4G). O fato é que, além de a situação fiscal do governo estar se deteriorando ao longo dos anos, há um esforço para maquiar essas informações. A saúde das contas públicas é um dado de análise fundamental para o investidor: quando o governo precisa financiar seus gastos, recorre à venda de títulos públicos que, além de reduzirem o montante de poupança disponível para investimento, puxa as taxas de juros para cima.
No campo monetário, a situação tampouco parece boa. A explicação oficial (choque exógenos), além de ser rechaçada por muitos economistas e investidores, não explica porque os índices de inflação vêm registrando números acima da meta ao longo de todo o mandato da petista. Muitas acusações de "experimentalismo monetário" e de perda da autonomia operacional do Banco Central tem sido levantadas.
Nem mesmo o mercado cambial tem sido poupado de críticas. Os fundamentos da economia brasileira, dizem os oposicionistas políticos e não-políticos, deveriam fixar o valor de troca entre o real e o dólar num patamar superior, acarretando uma desvalorização do real em relação ao dólar. Isso só não acontece porque, na prática, nosso mercado cambial não é livre. Municiado por largas reservas em dólares, o Banco Central intervém cotidianamente, vendendo dólares com o objetivo de manter valorizada a moeda nacional. Nesse patamar cambial, a indústria nacional sofre com a competição dos importados e com a dificuldade em exportar. O objetivo do Banco Central, dizem os críticos, é conter (ou melhor, maquiar) a pressão inflacionária resultante de uma desvalorização cambial, o que encareceria insumos importados.
Na política de fomento ao desenvolvimento, a falta de regras claras para a concessão de incentivos à indústria nacional parece desnortear os investidores. Volta e meia, surge um porta-voz do governo a anunciar isenções fiscais e outros incentivos a determinados setores da economia, deixando os outros esperançosos. Não há regras claras nem qualquer tipo de sistematicidade na concessão desses agrados. Os pacotes de bondades (como jocosamente acusa a oposição) parecem ser desenhados para os amigos do rei, ignorando uma conclusão a que muitos economistas chegaram: o que é vantagem pra uns, é desvantagem para os outros.
Esses são alguns dos pontos mais criticados pela oposição que, em resumo, gostaria de reabilitar o abandonado tripé macroeconômico (metas fiscais com superávit primário, metas de inflação e câmbio flutuante). Era o que defendia o candidato Aécio Neves. E é onde reside a esperança na nova equipe econômica da presidente Dilma Rousseff, como explica o jornalista do Estadão Fernando Dantas. (http://economia.estadao.com.br/blogs/fernando-dantas/por-que-o-mercado-esta-tranquilo-com-dilma/)
Para este articulista, fica a esperança. Mesmo sendo um eleitor convicto de esquerda, votou em Aécio Neves, com dor, pelos temores com os rumos da política econômica atual. Acredita que não há política social que sobreviva sem prosperidade econômica geral. A estagnação durante os últimos quatro anos é patente. Com a presidente possivelmente assumindo a bandeira do adversário político derrotado, tem pouco a lamentar acerca da última eleição presidencial.

Um abraço,
Thiago Ferreira

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A Ascensão do Dinheiro: episódio 3 (O estouro de bolhas)

No terceiro episódio da série do professor Niall Ferguson, somos levados em uma viagem de mais de três séculos através da história das bolsas de valores. Mais precisamente, através da história das companhias de capital aberto e suas ações, cotadas e comercializadas diariamente.

Em 2001, um escândalo tomou conta do noticiário acionário norte-americano. A Enron, uma grande corporação multinacional no setor energético e responsável, entre muitos outros empreendimentos, pelo gasoduto Bolívia-Brasil, viu o valor de suas ações despencar de aproximadamente US$ 90 em meados de 2000 para menos de US$ 1 nos últimos meses de 2001. A companhia faliu, o dinheiro de seus acionistas desapareceu. Mas um escândalo? Uma falência é um escândalo? Não seriam as falências inerentes ao capitalismo, à destruição criativa que o caracteriza? Sem dúvida, não há nada de escandaloso em uma falência. É a fraude contábil corporativa o que causa choque e o que fez as ações da companhia subirem às nuvens para, em pouquíssimo tempo, mergulharem para o fim.

Uma bolha, afirma Ferguson, sempre tem uma causa, sempre é produzida por algo. Não acontece à toa. No caso da Enron, as fraudes contábeis levaram os investidores a sobrevalorizarem da companhia e, quando não foi mais possível sustentar a mentira, a verdade revelou-se em escândalo varrendo a riqueza de seus acionistas. Mas a Enron não foi a primeira nem a última companhia a ver seus papéis sofrerem volatilidade extrema e, ao fim, desaparecimento.

O professor começa sua narrativa nos Países Baixos das Grandes Navegações. O comércio ultramarino requeria capitais vultosos: a construção de navios mercantes (escoltados, muitas vezes, por navios de guerra), a longa viagem (girando em torno de um ano), imensos riscos (guerras, naufrágios) impossibilitavam que apenas um ou poucos capitalistas pudessem, com seus próprios recursos, empreenderem tamanha aventura. Os lucros, igualmente, fabulosos: Ferguson nos ensina que com os lucros de apenas uma viagem pagava-se o custo da construção de uma embarcação inteira. Como fazer? De um lado, recursos necessários inatingíveis; por outro, promessa de grandes riquezas. Dessa necessidade surgiu a empresa de capital aberto: uma empresa cuja posse era compartilhada por várias pessoas anônimas e pudesse ser comercializada livremente. Nascia, assim, o mercado acionário. A propriedade da companhia era pulverizada em uma grande quantidade de ações cujo valor unitário era determinado no mercado acionário pelas condições de oferta e demanda.
Mas não foram nos Países Baixos que as bolhas de mercados acionários surgiram. Diante da experiência batava, um escocês chamado John Law, foragido no Reino Unido, vai à França e propõe uma maneira ao governo francês aliviar o ônus de sua dívida pública. Na prática, John Law transformou os credores do governo francês em acionistas de uma empresa monopolista criada por ele em nome da monarquia francesa. Aproveitando as colônias ultramarinas daquele país, a Companhia do Mississippi era dona exclusiva do direito de executar o comércio entre o reino de Luís XV e sua colônia na América do Norte. Nova Orleans foi fundada para ser o porto na foz daquele rio (e para bajular um membro proeminente da corte francesa). Todos ficaram satisfeitos: o governo francês reestruturou suas finanças; os antigos credores tornaram-se donos de uma empresa monopolista cujas ações se valorizavam a cada dia. O sucesso de John Law o levou a assumir cargos na administração financeira da monarquia francesa. Era, a um só tempo, Diretor Geral da Companhia do Mississippi e ministro das Finanças de Luís XV: uma combinação perfeita para a formação de uma bolha.
A companhia estava fadada ao fracasso. O comércio com a bacia do rio Mississippi se provaria pouco frutífero. Mesmo assim, até a verdade ser incontestável e escancarada a todos, a valorização das ações da companhia seguiu seu curso. Como John Law era também ministro das Finanças, turbinava a venda das ações – puxando para cima seus preços – com políticas financeiras frouxas e generosas. Por algum tempo, a distribuição de dividendos se deu não com a realização de grandes lucros, mas com a venda sempre bem sucedida de novos papéis. Era uma forma de pirâmide (ou Ponzi Scheme, na língua inglesa): os rendimentos provinham da venda de mais ações que, por sua vez, eram estimuladas pelas políticas econômicas adotadas pelo ministro das finanças e, ao mesmo tempo, diretor geral da companhia.
Como em qualquer bolha, em algum momento, os fundamentos reais da companhia viriam a determinar seu preço, levando-o a um patamar condizente com seu desempenho econômico real. Esse estouro da bolha é quase sempre dramático e, no caso de John Law, levou-o a fugir do país. A dinâmica das bolhas revelou-se como a descreveu Niall Ferguson: a) um evento econômico gera oportunidade de lucro; b) um entusiasmo pelos papéis correspondentes toma corpo, levando seus preços para cima; c) sobrevém a mania especulativa: os investidores passam a demandar ações não porque a consideram subvalorizadas, mas na mera expectativa de que seu preço subirá no curto prazo; d) surgem os primeiros sinais de ansiedade: os proprietários de ações com conexões internas e informações privilegiadas, sabendo que os preços correntes são insustentáveis, passam a vender seus papéis aos incautos com os preços ainda altos; e) a bolha estoura: os proprietários de ações veem sua riqueza desaparecer. 
Apesar de sua história do mercado acionário estar centrada na dinâmica das bolhas, Ferguson a conta de maneira positiva. O estudioso defende a ideia de que o mercado acionário é uma das inovações financeiras que tornaram possível os mais ousados empreendimentos econômicos. Em uma sentença, o mercado acionário, defende Ferguson, é um dos pilares do capitalismo e, especialmente, da abundância econômica na qual vivemos. Ele é, junto com a moeda, o crédito e o mercado de títulos, um dos fundamentos do bem estar econômico atingido nas economias mais desenvolvidas. O fenômeno das bolhas não é uma característica inerente ao mercado acionário. É o resultado de má conduta de seus operadores, como a história da Companhia do Mississippi e da Enron exemplificam através de excesso de liquidez e fraude contábil, respectivamente.

Até mais!
Thiago Ferreira

Obs.: Há poucos dias atrás, um debate verdadeiramente rico em ideias foi transmitido pelo canal Globo News. A apresentadora Miriam Leitão conduziu um intercâmbio de ideias entre dois dos principais economistas brasileiros da atualidade: Guido Mantega, ministro da Fazenda da presidente Dilma Rousseff, e Armínio Fraga, provável ministro da Fazenda do candidato Aécio Neves. Dado o significado de tal debate, pretendo redigir uma resenha essa conversa nos próximos dias.