sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Utilitarismo, valor utilidade e princípio da utilidade marginal decrescente


Por volta de 1870, uma nova forma de compreender as leis que regem a economia capitalista estava sendo desenvolvida nos escritos de economistas como Stanley William Jevons, Léon Walras e Karl Menger. Não se trata de uma revolução; não se trata de descartar os pensamentos já estabelecidos. Contudo, as inovações trazidas pelo pensamento neoclássico à ciência econômica revitalizaram-na decisivamente.
Esses novos economistas estavam particularmente insatisfeitos com a resposta que os clássicos, de Adam Smith à Karl Marx, davam à questão da determinação dos preços das mercadorias. Afinal de contas, como bem demonstrou o intelectual alemão, assumindo a teoria do valor-trabalho como resposta à questão, podia-se chegar à conclusão de que o sistema capitalista era fundamentado na exploração dos trabalhadores pelos proprietários de capital e principais atores do sistema: os burgueses. Era necessária uma nova teoria para a determinação dos preços.
Estudando em meados do século XIX, esses economistas estavam imersos num contexto intelectual no qual nasceu a filosofia ética utilitarista de Jeremy Bentham e John Stuart Mill. Segundo essa doutrina, uma ação era boa na medida em que promovia a felicidade e o bem estar individual e geral. Na formulação tradicional de Bentham: "O homem prefere o prazer à dor". A força motriz do ser humano, o que o leva à ação, não seriam a virtude ou o dever, como alguns filósofos defendiam, e sim a busca da utilidade.
Conhecedores da filosofia utilitarista, refletiram então os novos economistas: não seria o homo economicus um maximizador de utilidade? Não seria o consumidor movido pela busca da utilidade? Foi a partir desses questionamentos e pela formulação de uma teoria do consumidor que os neoclássicos chegaram a uma nova teoria para a determinação dos preços das mercadorias: a teoria do valor-utilidade.
Porém, antes veio a formulação do princípio da utilidade marginal decrescente. Especularam os pensadores: se os consumidores obtêm utilidade do consumo das mercadorias, não demandariam então um grande volume de poucos mercadorias, aquelas das quais extraem as maiores utilidades, no lugar de uma grande variedade de mercadorias? Não. Tal comportamento é evitado pelo princípio da utilidade marginal decrescente. As observações e reflexões desses estudiosos levaram-nos a concluir que a utilidade que se obtêm no consumo de uma mercadoria qualquer se reduz a cada nova unidade consumida daquela mesma mercadoria. Ou seja: uma criança se satisfaz muito mais com a primeira barra de chocolate do que com a segunda, a terceira, a quarta... até um ponto em que uma nova unidade adicional (marginal) de chocolate praticamente não redunda em aumento da utilidade do consumidor. É o princípio da utilidade marginal decrescente que rege as escolhas do consumidor.
Considerando que o consumidor é um maximizador de utilidade, nada mais natural do que chegar à conclusão de que o valor dado pelo consumidor às mercadorias corresponde a utilidade que dela pode obter. Sabendo que a utilidade das mercadorias decresce conforme aumenta o seu consumo, podemos chegar a teoria do valor-utilidade: a determinação dos preços das mercadorias é guiada pela utilidade marginal daquela mercadoria. Não poderia haver maior reviravolta: de uma teoria focada na oferta (teoria do valor-trabalho), a determinação dos preços passa a residir na demanda (teoria do valor-utilidade). Com a nova teoria, fica invalidada a teoria marxista da exploração de classe.

Thiago Ferreira

Nenhum comentário:

Postar um comentário